domingo, 21 de dezembro de 2008

MAIS DAS TURVAS

Me perder nas ilusivas luzes da certeza
engolir seus filamentos quase invisíveis
não tão quanto a bolha vitrificada da clareza
que ao se turvar me desbrilha entre os incompreensíveis.

Eu no além das circunstâncias todas do então
me destôo no último vagão sem partir
e me desplugo de razões, sou coração
mantramente chato me repetem : a falir, a falir, a falir.

Que falavam aquele um, a meia dúzia e outros mil?
meus ouvidos pesam surdamente com desverdades
e os rompantes ribombados celestes abafam minha voz vil
a latejar em meus sonhos pondo-me à margem da sanidade.

Tenho a certeza de enlouquecer
mas não pedirei ajuda
pois necessito assim sobreviver.

Enfim, os labirintos me saúdam.


R.Braga Herculano.

TERMINAL

Aquele homem que olha serenamente o mar
não me lembra nem um pouco o demônio da noite passada.
Etilizado com um ódio de si mesmo
a tal ponto
de odiar a tudo e todos.
E hurricaneado torce os ventos como centrífuga,
que pavor, meu Deus!
Como um bicho devorou aqueles dois ramalhetes
que você havia mandado e
restituiu os espinhos com vinho e gosma.
Pelo caminho se cortou a sangue frio
viscoseando as trilhas do abismo
que é o final da rua.
Pela traquéia suja
fumaça da amplidão
ou filamentos de óleo diesel
misturados a suor e estrada de chão.
Deve ter ido longe até se encontrar
num rancho de almas perdidas
ou então
se perdeu até tentar encontrar alguém.
Ele desceu a fim
de engolir o azul
e agora pára assim sem mais nem menos.
E eis que o areal seja o mais tortuoso de todos os seus leitos
e por enquanto, todos despercebidos agora
pra se cumprir
o inevitável talvez...


R.Braga Herculano.

CONTEMPLANDO...

Como eu amo
esse quê de alarde
que invade teu duro sono...

Nem parece que tu morreste!

Como eu amo ser invadido
pelo profundo sentimento teu
de desprender-se do amargor que é a vida.

Na rigidez da tua face
o doce mistério do lado de lá ainda perturba
ou me instiga.

Mas me enlodarei porque os cronômetros me são
ainda oxidantes
você fica.

Eu bebo a tua paz assim
mesmo que sinta-me teu órfão
e que teus abraços agora são pros deuses que tu crês.


R.Braga Herculano.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

7:45 p.m.

Sufocado com a opacidade das cortinas grenás
em meio a luz de velas que deixam
a casa cheirando a cruzeiro - lágrimas de cera
velando minha cara tétrica.

Velando a amargura de cadeiras vazias
parecem esqueletos.

É esse o jantar dos solitários- velório todos os dias.
Velório da esperança- pra variar.

R. Braga Herculano.

SFUMATO II

Tentei sonhar com você
mas o que vi na noite passada foi só fumaça
que me dizia:

-Infelizmente você precisa acordar. Agora
dê o seu goodbye para as estrelas.

R.Braga Herculano.

HELLO HEAVEN

Hello Hello Heaven
Cansei de porrar a porta do céu
Descerei as escadas pra tomar meu rumo
Ao fim do meu mundo
Mas antes eu quero
Desengomar os seus mistérios
Como se fossem
Tangerinas.

R.Braga Herculano.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

BATIDÃO

fuck funk
funk funk
fuck funk
funk funk
fuck funk funk
fuck funk
funk fuck fuck fuck
funk funk
fun-fun-fun-funk fuck
fu-fu-fu-fuck
fuck funk
funk funk
fuck funk
funk funk
fuck funk funk...
fu-fu-fu-fu-fuck funk funk funk fu...

...vvvvvvvvvvvvvvvvvvv
vvvvvvvvvvvvvvvvvvv...

fuck funk funk fuck
fuck funk funk fuck
fu-fu-fu-fuck funk
funk fuck

...vvvvvvvvvvvvvvvvvvv
vvvvvvvvvvvvvvvvvvv...

R.Braga Herculano.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

VAYA-WOO

Vaya woo vaya woo
Habla wah Shangri-Lah
Deing-doing blah blah yeah
The nothing can be a different life.

Stopped and dropped
The driving rain cries to me
at the mercy act
Violinely and blindly
and sharply
and catastrophically
Ray followed the fellow light
Hazed with the unknown
Mixed with the yeah yeah and no no.
Blendered with a pick
With a lick
With a kiss
With a lip
With a meat into the chopper.
Surreal,
amazing,
grooviest,
Abstract,
factorial,
new dream,
new hi,
new sun,
new soul,
new son,
new sound,
new written
Oozed by the chimneys
Escapade zone
Forever to not be a mad man anymore!

R.Braga Herculano.

SUPER-EGO

A razão inventada e distribuída aos cegos de alma eu não quero.
Eu não quero ser o lúcidozinho conformado.
Eu quero ser o doido temido, incompreendido
eu quero ser o que continua sonhando,
não um sonho já sonhado.
Quero eu mesmo tragar minhas emoções
vou cuspir depois as nuvens na cara dos que não amam.
Sou o intransávelo intransitivo
mais que um organismo vivo
aquele que é capaz de destruir e reconstruir se não conseguir retificar.
Eu sou um ponto de interrogação?
Eu sou o único ovo rosado dessa cartelinha?
Eu sou aquele x que querem porque querem me fazer imexível?

Tarde...

Eu já talhei meu rosto no coração dos distraídos
eles me viram e pesadelarão por todo o sempre.

Amém.

PHILIP MORRIS

Eu viajo obcecado nos vagões esperando o ano terminar
os meus olhos fazem isolar meu pensamento ao além das serras
céu policromático,
ausência de vapores
e o requetreque-estriteque eletrificado e precário.
Talvez aqui se viva feliz
porque não se vê quase ninguém
e tudo tem mais valor quando se está em extinção.
São centenas de pessoas solitárias circulando sentadas nessa lata de sardinha
esperando pelo quê?
O que mais quero a ponto de anseio
é ficar tranquilo com você
mas o problema é que você é criação minha,
esboço em meio a raiva
da estupidez de meus próximos.
E você some tem horas
como nicotina diluindo-se na atmosfera.

R.Braga Herculano.

TRASLADADO

Satélites, digam que morri!

Não me procurem porque daqui para frente é como se jamais estive aqui!
Mas antes fui abduzido para um universo desconhecido, sabe?
Aquele que vocês acreditam não existir.

Perdem tempo com Google Earth
eles são tão burros quanto binóculos sem olhos
e o observador cadê?

"oui oui oui oui oui oui oui oui oui oui oui oui oui oui oui oui oui oui oui"

telegrama do adeus verdadeiro
me chamaram para uma conferência no abismo
me chamaram para assumir um posto além da exosfera
me chamaram e todos que respiram ar não me entenderão.

Perdem tempo com Google Earth
Eles são tão burros quanto binóculos sem olhos
e o observador cadê?

R.Braga Herculano

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

INNER

Com brio veja-te dentro
e não deixe escorrer dos olhos a essência de teu ser.
Aspire o azul verdadeiro
e deságue nos confins da eternidade que habita em ti.

Ala-te ao Invisível
e siga o sopro vivo que virá.

R.Braga Herculano.

OMEGA

I
Quem te via, esplendor
hoje te procura em cinzas
hoje sem querer te respira
sua inércia seca e lentamente espalhafatosa
homogeneizando com carbono de fábricas
com cigarros de palha
com canos de descarga
com vapores de enxofre
com estilhaços de ferro
com pólvora quente
que a sangue frio é lançada.

O corpo é a decadência
a luz dos olhos, o marfim do corpo
o ouro dos fios de cabelo
os espelhos e coisa e tal
assassinaram Narciso
por ser poço de vaidade
sendo assim é homem raso
um vaso de terra e sementes murchas
que se lança ao chão não há mais o que ser.



II
Entrevando os velhos viram sábios
a dor de ser mortal é sinal
que aprenderam a lição
olhe as nuvens, lá está o certificado.

Nada mais aqui importa
tudo é tão destrutível
pela água, pelo fogo, pelo ar
pelas traças, terremotos
pelas metástases e loucuras.

Lubrificados, os jovens são tão flexíveis
isso é tão arriscado
porque o tempo não é bem síncrono ao físico
eu vi tísicos enterrando atletas.

Tudo é tão desreticente
o constante é o por enquanto
mas não creio no apagão
só que as mutações existem
desritmadas e turvas manhãs quando muito choram
partejam tardes de sol
e se alegram com o que ha de mais colorizado ao firmamento
e as pessoas acham tão diferente
embora não seja uma só vez na vida
que há de acontecer.

E os ventos desfolham os calendários levando embora folha por folha
e brincam de abrir e fechar templos rústicos
brincam de ser músicos com ecos de abóbadas e sons de folhas secas.



III
Mesmo assim vou seguir
os dias que seguirão avante
o que posso pensar
é que pensar demais não é tão bom assim.

E na praça do enquanto
de mãos pretas de carvão
as crianças desenham flores.

R.Braga Herculano.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

VEZ

Quem me tomar a deixa
que trove a esperança
que profetize aquilo
que sempre queremos ouvir e viver.

R.Braga Herculano.

GOOD MORN'

Fios de café
Aroma
Matina
Riscos avulsos, transparentes, espalhados
misturados de dourados
pastéis
crayons
são tons
veludos.

Abraços
Vazios.

Longínquo
o pensamento como rede vai pescar
o que está ali atrás
do sol
das serras.

Repente
distração
acaso
futuro
que chega
o escorregão que demos na escadaria do tempo
e demos de cara com um dia novo
de novo.

R.Braga Herculano.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

ESTRELA DA MANHÃ

Uma estrela teimosa não quer limpar a abóbada azul
estrela temporã.
Quero despregar os olhos do despertador
os leds vermelhos me afugentam do sonho: Já é de manhã.

E vou
na veludez da calmaria que é a solidão
agridoce e instigante
nada vezes nada vã
e no afã pelo novo eu vou
e a estrela ainda lá...

E vou
na lucidez de um novo dia
que é o que fazem todos os vivos
e no afã pelo novo eu vou
e no afã pelo novo eu tenho tenho de ir
e a estrela ainda lá...

R.Braga Herculano.

LÍRICA

Enfrentarei os mares quando se encontrarem
debaterei com suas ondas ora sombrias
ora luminosas, ora violentas,
ora repleta de bossa sob a bruma alucinógena da quase-manhã violeta.

Enfrentarei o velho medo de dizer
que tenho medo de enfrentar o medo
e quaisquer ciclos paranóicos
que espiralam nossos dias até o dia de todos os minutos
descerem ao ralo.

Eu seguirei sons
compassos e notas cadentes ao abismo dos intervalos das músicas
que estalarão daqui a uns anos
evanescendo todo o silêncio.

Darei nós nas cordas rompidas
de contrabaixos que resmungam aos fins de tarde pelos outonos da vida
para continuar o ritual
evanescendo todo o silêncio da promissora noite.

Que seja tudo à la Blue Note ou Verve.

Eu quero também entender aquelas notas aleatórias
escoando pelos córregos e com cara de cassettes alterados
fitas ao contrário, o avesso da orquestra é uma outra ainda mais nova
dizendo : Viva a vida após tudo e um pouco mais.
Então desagua-se do rio aos mares de ondas múltiplas
aos tais mares, os mesmos.

Sigo a correnteza e ligo o mundo outra vez pra mim.

R.Braga Herculano.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

AVANT

Num sonho vanishea-se o meu cansaço e reluto mais duas vezes
essa tipografia em mim precisa ser constante como um coração
versos irrigados precisam estar
e vivos também.

Virou viagem e vício
converter imagens em palavras e vice-versa
virou necessidade me mudar todos os dias
até um dia
eu chegar lá.

R.Braga Herculano.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

PIOMBEA E AMARA

Finestre come occhi vuoti,
alcun' perdut'animo parl' al fondo della sala
sono strane lingue eccheggiarando alle gonfi di dentro
parole che scivolanno nella vuota (è il cielo di cuore).

Amore, soffi tua essenza in tutto questo niente.

R.Braga Herculano.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

PARA QUANDO A LUZ ENTRE AS NUVENS DEIXAR DE SER APENAS UM FIO

Deram cordas nas bicicletas
que circundam esse mar imenso
ou ao menos a lagoinha
ou ao menos uma curva e outra.

As crianças são do sol e os velhos são seus donos
todos brincam e contam histórias flutuantes
nossas lentes são irmãs dos sonhos
querem ter em vista o que é luz.

Registrado, é o pra sempre
que sempre acaba se olvidado
mas se somos escrivães ou pictóricos de alma como hoje
não deixaremos apenas farelos pro amanhã.

Caminhada, traga o ar ainda úmido de neblina
nas calçadas pulam o preto e o branco a velha esperança
elástica e rejuvenescida.

Tudo novo
viva a plenitude da claridade deste dia
depois de tantos dias escuros
noites polares
em pleno tropical não há
somos sempre
os vivos que testemunham as crostas cinzas nos céus que já foram.

E assim será com os que virão
depois de amanhã.

R.Braga Herculano.

terça-feira, 1 de julho de 2008

ESPÍRITO DE PORCO No. 2

Alvorada tá caindo
Já me perco em aperreios
Enfrentando os entretantos
que me irritam quando são para mim.

Me olho no espelho
estou com cara de jazigo
meu amigo telefona
para contar histórias de todos os dias.

Queimo uns trinta poemas
fumo as cinzas bem depois
eu a tossir papel queimado
enfisema lírico?

Ser ou não ser mais um não-ser?
Ser e viver o vão vagão?
Viajar perdido ferreamente
Sem cabeça ou sem fumaça.

Boto fora tripa e rédeas
os cavalos me odeiam
eu não vou andar no mato
vou ficar e capinar desilusões.

Qualquer coisa é coisa à toa
êta caminho embagaçado
vou aos raios que me partam
lá na terra de clichês.

Conto o amargo para alguém
que se ri encatarrado
eu não achei nada engraçado
mas me encatarrei de rir também.

Ser ou não ser mais um não-ser?
Ser e viver o vão vagão?
Viajar perdido ferreamente
Sem cabeça ou sem fumaça.


R.Braga Herculano.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

LUCIANNE MENOLI

Lírica sem métricas.
As métricas prendem o ser.
Ela se desata, é livre pra escrever
veias, sangue, coração e alma.
A gente sente seus seres sentirem
como se fossem nós mesmos.
Mas que diferença faz de nós e pessoas que ela criou com
luz e grafite?
Naturalmente uma poetisa
divinamente humana e sensível
ela se torna também autora de mundos e mundos e mundos...
Na poesia, podemos ver que a Terra é incabada
as pessoas, incabadas
as palavras, o diferencial.
Dela há o poder de especificar alguém.
Enquanto à esta poetisa
parece irmã ou amiga muito íntima
das linhas, entrelinhas, reticências e etecetera.


R.Braga Herculano. em 3/01/2008.

(Para Lucianne Menoli, uma amiga minha)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

DIAS REMOTOS

Leram meus pensamentos
como frases em caixa-preta.
Eram códigos avulsos xilografados
no porão dos dias remotos registrados por mim:

"Nos exílios debaixo da cama
no fundo da sala de aula
atrás da igreja
ao lado do cemitério de Irajá
onde eu mudo me indagava
por que é que eu sou eu
outro eu me respondia:
você quem é pra se indagar?
você é quem pra se estudar?"

No porão dos dias remotos fui-me hediondo
em busca de desentornar o ponto de interrogação
me esqueci das horas correndo pelo ralo
esqueci de mim.

"E então, chega de passar minutos mal-passados
deito sobre a tábua viro múmia
deito-me de costas pro passado
torrado pelo sol do meio-dia
emporcalhado com a lama junto à bola
cheirando à fumaça de Free ouvindo um límpido Jazz
sou chaminé e cano de descarga
engulo seco os dissabores torpes da vista da falecida guanabara
nos vitrais baleados do madureira candelária
como quem tem a alma numa braga
e os pés no convés ancorados.

Eu nado mas afundo
no existencialismo
alma penada que se baseia em seus achismos
e funde
e confunde o fora e o dentro como se
os mundos todos fossem a mesma coisa."

R.Braga Herculano.

(Agradecimentos ao Raphael Lambach que escolheu o título deste poema.
Abraços,

Roddy.)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

AUTUMN

I saw nude trees
empty picture open skyline to my window
horizon
autumn
grey and brown afternoon.

Read white-page-books
hurt my eyes with a razor of silence
Woolf is so quiet
my God, where are her?

Ate some untasted apples
with monosongs
old fields of space in my rememberance
rise up again my bonnie to me

Was shadows with mud houses?
The rain is coming on to wash the history.

A little of her hair
in my overcoat
with the air and a miss.

R.Braga Herculano.

LEI

Il vuoto dia che tu hai lasciatomi
quello giorno parvo
quello giorno bruto
quello giorno eterno come un inferno in mi orizzonte
che parvami tutta la notte fino adesso.

Il silenzo in ogni vuote ore spadante
scherza de amazziarmi come un diavolo
c'è il destino
o non?

R.Braga Herculano

NASKIĜI REE

Vivo Lêgera
Animo de plumo.
Plumbo de aero
Acido de larmo
Spasmo de vulkano
Birdo de fajro
Libera de tenebroj fridaj.

Naskiĝi ree
Dank'al eterneco.
ĝis la morto mortas!

Floroj Lotus sur la
Estrobo sur la teleskopo
Tra la steloj
Balas kun petaloj
Vanishenti sur la spaco.
Anhelianta horizontoj.

Naskiĝi ree
Dank'al eterneco.
ĝis la morto mortas!

Mandala multikoloraĵo
Lumo de fido multikoloraĵo
ĝardenoj estrobas tagoj kaj vesperoj
Inter ĝangaloj cindroj
freŝa helaĵo sur la ĉielo
mi profundas sur la nuboj.

Ebria de espero
Revo bono dirite!

Naskiĝi ree
Dank'al eterneco.
ĝis la morto mortas!

La morto mortas por la eterna vivo,
Amen.

R.Braga Herculano.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

ainda sem título

I
do mar
leve eu vi a onda levar o ontem e trazer
o sonho e
passou
a brisa zoou
nossos destinos com
cheiro de sal
e vista pro sol.

pó de areia no meio
da sala
sob lustres e sobre o chão
varro o tapete
e o topo do céu
com
seus cílios.

II
de rede e ócio
o fácil é viver
quando se ri sempre
quando se vê
espelhos polidos
batendo na janela aberta.

III
gaivotas ou asa-deltas?
em bando como aviões
de guerra
mas dançam no firmamento
templo e
relento o anti-horizonte
o que minimiza
o homem
enche um coração poeta.


R.Braga Herculano.

APENAS UM POEMA

Essa pode ser uma não-visceral
mas é do coração que escrevo tal
não vou me preocupar com forma e cor
o amor pelo desconhecido vai me acompanhar.

Tem sempre sol,
penumbra e confusões
profusas e difusivos escarros ou jactos de "???"
os tantos de xis e ípsilons
às vezes me cansam
quando quero entender essa teia.

Dactilografa a plenitude do seu segundo agora
quero ver você fugir do da da da da da
E seus sinais calidoscópicos

Verde
Amarelo
Vermelho
Rosa
Vermelho
Laranja

Há luzes te parando e te fazendo seguir.
Cuidado com o que dizes e o que pensa
ou com o tempo que vanishea p'rá ares e coisa além
palavras são moldáveis
coisa-com-coisa e coisa e tal
pior é quando o complexo leva o tudo pro nada.

Não seja uma qualquer anticabeça de pescoços e braços nus
imaginando o amanhã borrado numa abreugrafia
ou num daguerreótipo em traças
ou numa carta não terminada.
pior é quando o complexo leva o tudo pro nada.

Você olhará pra si
E ver seu mundo tão mundo de todos também

E o tanto de tempo enralado...

Depois não culpe a vanguarda.


R.Braga Herculano

quarta-feira, 28 de maio de 2008

WORK SURE

Work sure the clock work sure the sun
work sure your day and your noon
posterity over mars?
posterity over bars?

Work sure trips and the road
work sure the magic and the toad
work sure the lake and the princess
work sure the fire and the phoenix.

Here lays my "ieri"
I've change my shell
I've change my ton-sur-ton
My titanium bones.

Rest in peace Rod
Rest in peace Old Rod.

Work sure blood the ice man
work sure seed to the nude land
work sure the vote in the nine nine
work sure your heart to your friends.

God gaves to you a new you to you a new you to you a new you to you...

Free it yourself to the now
Free it yourself and follow the vows.

Mr. Lambach brothersoul
friend of mine
friend of my lines
written yeah
helped my light to his blue lighted eyes.

I want to live the visceral life words.

Words to say
words to pray
words to joke
words to work.

Work the clock work the sun
work the day and the noon
posterity over mars?
posterity over bars?

Work sure beat on the drums
Work sure the garden on dreams
Work sure road to the tramps
Work sure chance to the light sun.

Rebirth an "?" slidin' in space
dig the sky.

R.Braga Herculano.

Copyright (c)2008, written in 2007 by R.Braga Herculano.
by the Book "Clear Hours Vapour".

sexta-feira, 16 de maio de 2008

ANTENA

Driblando espaços e campos
deslizando por distâncias
seus raios não vêem
mas vêem movimentos e mundos e mundos e mundos.

Suas ondas tampouco
e elas ecoam e espalham sons e sons e sons.

Os trovões, as canções e os rumores
tudo é alinhado
parabolizado
ondulado.

E os laços se atam sobre o mundo
alma da bola de cristal
e eu, antiglobo
sou mínimo diante tudo ou tanta coisa.

R.Braga Herculano.

VISITA

Chove fino, vespertino e grosso ar plúmbeo
eu vejo a velha casa coberta de limo
à sua volta, tapetes secos de folhas sem-graça

É o quintal por varrer.

Alma penada, perdida
é um velho branco quase trasparente, quase azul, cesiano.

Alma penada
pesada
mente
pesadamente viva.

Decadências
cadeados
e pianos com teclados frouxos
seus dentes são de um dessorriso.

Soprando palavras e estendendo a mão
os trincos podres se estalam e retalham por frieza
o teto e o chão.

Estilhaços de amianto
assim me parece o seu futuro.

Pegue minha mão e venha
fugir da decrepitude
tome essa atitude
não se misture aos barbitúricos
não se entregue em vão aos atos cirúrgicos
não tente agora ser litúrgico, a morte é o fim da missa.

Apresse
a prece.



R.Braga Herculano.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

U.W.O.

word wort word wort word wort word wort

um feixe de letras só se torna palavra
quando se diz o que se sente
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz...
onomatopéiacentopéia kafkiana
samseada
acordou emitindo um esperanto diferente.

quase que comichões nos ouvidos
ou ruídos e estalos longplayanos,
lareiras e camas capengas.
insistente
insônia
que com o sol esbofeteia quem quarteia então.

inconsciente
subconsciente
se balbucia
quem vai entender?

línguas de açoite, canções de pesadelo, vestígios de escritos
analise
explique por favor, ô Freud!

enquanto aos micos de espaço,
vertiginosos trabalhos de sysyphus (?)
what is ummagumma?
e os sinos doidos, ô Pink Floyd?

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz....


R.Braga Herculano.

quinta-feira, 27 de março de 2008

ÉPICO

Sobre chãos incessantes de terra batida
eu deságuo suor e desespero
sinto o peso de um céu como se fossem sete.
mãos calejadas, ferramentas tão roídas quanto a minha cara.

Mas eu teimo
porque quem teima vive mais e enterra seus desafetos.

Eu vegeto ou devaneio?
pois não morro e ainda quero chegar onde desconheço.

Eu cresço dentro de mim
quando o sol quer me engolir
ele é dono de toda luz
mas nunca vai torrar nosso modo de olhar a vida.

Ainda que torre as nossas horas.

R.Braga Herculano.

domingo, 16 de março de 2008

AOS “GRANDES”

Homens normais, mas

Líderes tiranos ou mestres boçais

De ciências ultrapassadas

Ou então nossos pais

De olhos vendados para o novo

Vão ficando pra trás

E como vão manter o posto?

Gestores bestiais

Monges-executivos em

Fábricas-templos-minas

De deuses predadores de carne humana

Os mesmos de outros germinais

Os grisus doparão o mundo ao descaso?

Cuspir na cara em vez de “heil”

Nove nove para presidente.

Abriram escolas e puteiros

Igrejas-nazi-universais

Há um além só de dinheiro.

Vêem-se senhores da Terra mas

São irmãos da loucura

Ou os pais da mentira

Vivendo essa ditadura da falsa democracia.

R.Braga Herculano.

sexta-feira, 14 de março de 2008

SHE LEFT ME BEHIND

Deixe a sala escura assim como está.
Não esqueça de me deixar só
Eu quero a companhia de sombras e penumbras mal formadas pelas frestas das janelas.
O dia jamais nascerá aqui enquanto eu estiver.

A linha do tempo
quero ver correr com os fios enevoados tabagistas.
Ouvir
só os estalos do teto e o blues estalados de velhos.
1977
1980
2008
O tempo é uma linha imensa
e ainda fez o favor de levá-la embora.

R.Braga Herculano


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

GENI

Rosto ao espelho, certeza

Confissão de despedida

Não mais despida e sim trajando

Esse desejo pelo fim

Olhos mudaram para opacos e tristes

O amor é ingrato tem horas (na maioria das vezes)

Antes só sentisse as velhas coisas da carne

Como sente o fio agora.

Derramando seu âmago por lágrimas e sangue

Vida abaixo pela escada

Nada a faz vil, nem a morte

Nem vida que levara outrora.

Coração ata as mãos

Desnuda o corpo e açoita por mal

Às vezes é caro o preço de viver

E o que resta é castigo após o prazer

Entre as paredes a voz ainda ecoa

Execrável vingança da revelação

Que perturba a verdade por essa traição

Risos e lágrimas agridoces rolando

Ironia desse destino que mesmo provocamos

Quando amamos, vivemos, morremos.

E o que apenas restará

É o fantasma do passado que ressoa desde já.

R.Braga Herculano.

TEMPORAL DE PARALELAS E VERTIGENS

Uma rede é tecida de luz e dor

Junto ao sal e a ferida.

Sufocando os cirros que vão para o além

Até se estender pela de terra de fendas gritantes

Qual germina a vida em um ser

Que um dia há de morrer.

Aços e raios se ligam no ar

Cabos de força e segurança se rompem

Enquanto as cortinas se rasgam.

Quando estaremos perto do dia certo?

E o giro contínuo e analógico

Entende o tempo vanishear como mesclas brumosas

No horizonte.

O tempo,

um punhado de cupins e falenas medrosas.

As pessoas vão-se embora por que?

Os fetos envasados poderiam ser mártires e bons líderes

E distraído eu só me ponho a perguntar:

Quando estaremos perto do dia certo?

Pessoas dançam, dançam, dançam com o rádio:

Perderam o controle.

Zumbis dançam, dançam, dançam nos bailes, raves e blocos:

Perderam o controle.

As mesclas brumosas se dissiparam no horizonte

A fissura no ovo da ampulheta fez vazar toda a clara e a gema.

Tempo esgotado:

Ninguém mais há de chegar aqui

Pelo menos hoje.

E quando estaremos perto do dia certo?

R.Braga Herculano.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

DER DUNST DER ERHELLTEN STUNDEN (O Vapor das horas Claras)

Der Asphalt schwitzt heiß
im Dunst der erhellten Stunden.

Die erhellten Stunden verschlingen die Schatten,
die erhellten Stunden zerstören unsere Vision.

Unsere erhellten Stunden schwimmen im Meer
mit den Schmerzen im Kopf und mit überhöhtem Blutdruck.

Der Wind führt leicht den Dunst der erhellten Stunden.
Die erhellten Stunden zerstören die Armaturen-
bretter der Autos,
die erhellten Stunden die den Wein säuern.

Die gleichen erhellten Stunden erhellen die Wochenenden mit Hautkrebs und gewaltigem Fieber.
Der Himmel öffnet sich heute für den Dunst der erhellten Stunden.
Die erhellten Stunden bestrafen, schlagen , behandeln ungleich.

In diesen verbindet sich die Glut mit der man in unserem Land die Gnade entsendet,
dieser Dunst der erhellten Stunden.

R. Braga Herculano

Traduzido para o alemão por Micha "da Silva"

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O VAPOR DAS HORAS CLARAS

O asfalto transpira quente
o vapor das horas claras

Horas claras engolem sombras

Horas claras esverdejam nossa visão.

As nossas horas claras
dos banhos de mar
das dores de cabeça
das crises de hipertensão.

O vento conduz de leve
o vapor das horas claras.

Horas claras que ressecam painéis de automóveis
horas claras que entortam vinis
As mesmas horas claras da orla dos fins de semana
das metástases cutâneas
de secas febris.

O céu hoje se abre
para o vapor das horas claras
Horas claras castigantes,
prazeirosas,
desiguais.

Nesse conjunto de brasis
que é o nosso país
que se destaca graças
a esse vapor das horas claras.

R.Braga Herculano.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

LAPSOS DE JOHN DOE

tequetequeando palavras inquietas
comichões nos nervos do cérebro
incansado, faminto
como quem raspa o fundo da panela
comendo migalhas do inox
no sótão
corre-corre
e umas três ou quatro ratoeiras estalam
lá fora morcega quem quer.
eu forço em escrever
palavras quase mortas prematuras
tiradas a ferro
eu quero concluír o meu vácuo
o meu não
por ser independente de qualquer sim da vida
até se cerrarem os tinteiros.

R.Braga Herculano.

ESTRELA DE MIL PONTAS (Para Clarice Lispector)


Estrela de mil pontas
surge falenamente de um corpo sujo e triste definhado pela fome e indiferença.
estrela de mil pontas
chegou sua hora de se estender no céu
de furar o véu azul e se dissipar
solte seus raios pra cada canto do além
onde o raciocínio terreno soa como um mero lapso.
estrela de mil pontas
vá e mergulhe em outras esferas
sinta prazeres desconhecidos
de existir
de explodir-se
de chocar-se contra outras iguais a você.
estrela de mil pontas
alma de borracha
flexivelmente clara e nova
apague o que passou da vida
o que vale é o que ninguém entende afinal.

R.Braga Herculano.

GRACILIANO

Alagoano, cabra macho e letrado cinza, ranzinza.

Que crê q vai morrer ano que vem,

que crê num Deus mais ateu que o Deus de Nietzsche,

também ateu e que já morreu.

Fumante, chaminé,

Voláteis e densas idéias,

ora sombrias ora simples,

ficam emplastradas no ar.


R.Braga Herculano.

UMA VISCERAL

Ozônio, ovo, veneno, mar vermelho.
A placenta do mundo se rompe todos os dias
E estamos imersos
submersos
à deriva
em úteros
em tripas e alma
eu sou verme.
Sim, eu sou uma verme
Um verme contorcente
ofegante
e respirando acidez do ar
nesse oco do estômago
faminto
ruidoso
da mendiga pátria mãe gentil.
A pátria me pariu sim
mas como uma puta acostumada
com cara lavada de aloés
com cara lavada de quem vive pra isso.
Ela me deu o seu ar (i)lírico
etílico
reumático.
Envelheço porque vivo.
Eu morro porque vivo,
pois a imortalidade é dom dos que não nascem.

R.Braga Herculano.

CALIDOSCÓPIO

A minha vista está sobre diamantes ou prismas.
Cores,
valem mais até mesmo de que certos "valores".
Eu vejo formas torcidas e distorcidas,
retorcidas e ajustadas
desajustadas e decompostas
recompostas invadindo
todo o campo que vejo
dimensões não muito longe daqui.
Até dimensões daqui mesmo.


Nisso em zero por cento de alucinógeno ou similar
não quero assinar parcerias nem com Johnny Walker.

Praça masis hexagonal
caras de gente triangulares.
Brasil, por exemplo
estrela de vinte e sete pontas confusas
atropelando-se umas às outras
por serem obtusas demais.

Vermelho e azul, sangues desiguais
violeta da aurora os nivela, eis o velho céu.

Cores,
valem mais até mesmo que certos "valores".

Visão talvez minha
ou dentro de um mundo
que há nesse mundo
de diamantes ou prismas.

R.Braga Herculano.

A TERRA NUNCA FOI AZUL

A terra nunca foi azul
ela se encarnou do sangue de jovens vítimas
civis e militares.
Ela chupou com suas areias o vermelho
que jorra de seus corações literalmente feridos.
Ela absorveu a existência de Aurora
"She blew her mind", foram eles que fizeram isso.
A Terra é da cor do estatuto de Mao
A Terra é da cor de um esportivo de um mauriçola ocidental.
A Terra é da cor de lábios pintados e unhas de uma puta íbero-brasileira.
A Terra é da cor do maior blefe mundial.
A Terra é da cor dos restos (i)mortais
de corpos celestiais que se chocaram em brasa.

R.Braga Herculano.

R.BRAGA HERCULANO

Às vezes eu cato pedras de versos
e jogo-as nas águas
os fazendo ferver,
estourar
e jorrar mensagens em forma de rastros,
de gêiseres,
no alto.

Cometa quente que respinga
o que quero dizer
quando tenho o que dizer.
E até mesmo quando não posso,
mas acabo por me calar.

Feliz de quem escreve.


R.Braga Herculano.

A ATRIZ

Ela se maquiou
representou
sonhou um sonho lindo por outrem
que não era nem ninguém que vivia.
E chorava também
por amor
pelo desdém
mas que mesmo assim ainda amava
e sonhava
sobre o palco
sob as luzes desse sol de mentira.
Dessas gelatinas coloridas.
Estava lúcida
tão fingida
deu sua vida pra outra vida
enfim, trabalho.
Aplaudida, aplaudida, aplaudida!
Fim de todos os atos
platéia comovida
Saiu pela coxia
De olhos ainda inchados e missão cumprida
Missão de sempre
De todos os dias.
No camarim
tirou pintura
roupa
tomou banho
(Re-) Arrumou-se e saiu indiferente.
Voltou pra casa
olhou a Central
e cruzou com um amigo
tão formal
deu um boa noite sorridente
e seguiu.

R.Braga Herculano.

XÍCARA DE SANGUE

todo fim de tarde
tenho o anglo costume de beber da minha morte
bebo e fico bêbado
bebida febril que me arde
entranhas e me arrepia os braços
me faz pensar
me faz não acreditar no amanhã
e ele chega
pra me fazer feliz
pra me contrariar
pra me fazer insistir em pensar
em beber
em continuar a não acreditar no amanhã
em continuar a dar
goles, goles e goles dessa xícar de sangue então.
goles, goles e goles dessa xícara de medo então
goles, goles e mais goles desse enredo existencial(ista).
goles de tédio e um porre desses sóis morimbundos de sempre.

R.Braga Herculano

HIPNOSE

A chave magnética
os pára raios
os raios
o relento
as regressões
as orações
os fins de semana
os afins e desdéns de garotas
que me amam e ignoram
todos os ossos radiografados
os chás das dezessete horas
de todos os vinte e dois anos.
Milhões vezes milhões de piscadas e piscadelas
de tropeços e caras no poste
de nuvens que passam
e lamas que respingam em nossos pés
de arranhões de tombos
de bicicleta
de porradas no pescoço com air-bags
de zoeiras nos ouvidos com telefones celulares.
A quina da calçada
os punhais de gente ruim
os pesadelos
os devaneios
a esperança
os dedos estalam
e nada mais sei.

R.Braga Herculano.

ÊXTASE No. III

A manhã deu seu grito de liberdade
Então resolvi dar meu grito também
Ao abrir a janela
Vi flutuar a casa
E um imenso prazer desconhecido me atirar de cima.

R.Braga Herculano.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

IN CHAINS

eis-me aqui em vértebras, ou
(in)vértebras
flexível como um verme azul

que torce de dor ou de desconhecimento
do incômodo que o mundo causa.
se é um útero ou uma guarita,
uma crisálida ou um cativeiro
um esquife ou minha casca
tanto faz se não sou livre.

a bolha que me guarda é a que me mata ao me roubar o ar.

R.Braga Herculano.

O FIM DA QUINTA GUERRA MUNDIAL

radiação policromática,
multicolorida.
nessa atmosfera doida e suja,
nessa atmosfera puta e irreal
um arco se estende após a tempestade.
todo mundo imundo de lama e de sangue
se impressionacom o jogo de luzes.
mas o que eu sinto é nojo.
pra onde foram os anjos
na hora em que metralhávamos uns aos outros?

R.Braga Herculano.

COISAS DE METRÓPOLE

os vagabundos lotam calçadas
coisas de metrópole
a noite é indiferente como sempre
coisas de metrópole
os garotos brincam com meretrizes
como quem brinca com formigas
os taxistas diringem olhando pros terços
segunda pra terça, pouca gente bêbada
os moleques lavam pára-brisas pra comprar maconha
os velhos, são mais velhos quando se assustam com esse doido tempo novo
coisas de metrópole
as calçadas mijadas e quebradas
coisas de metrópole
os caminhões passam roubando o silêncio
os executivos cheios de poses e medo
blindam em vão suas Pajero
seu sento ao lado de Drummond
olhando o mar ,cansado e puto da vida.
Eu sou do Rio de Janeiro
aliás
promíscuo paraíso infernizado
cidade amargurada e tão sambista
monumento do mistério e da ganância
pirotecnia bélica
confusão quanto ao seu futuro
turismos e funerais, enfim
coisas de metrópole.

R.Braga Herculano.