quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

GENI

Rosto ao espelho, certeza

Confissão de despedida

Não mais despida e sim trajando

Esse desejo pelo fim

Olhos mudaram para opacos e tristes

O amor é ingrato tem horas (na maioria das vezes)

Antes só sentisse as velhas coisas da carne

Como sente o fio agora.

Derramando seu âmago por lágrimas e sangue

Vida abaixo pela escada

Nada a faz vil, nem a morte

Nem vida que levara outrora.

Coração ata as mãos

Desnuda o corpo e açoita por mal

Às vezes é caro o preço de viver

E o que resta é castigo após o prazer

Entre as paredes a voz ainda ecoa

Execrável vingança da revelação

Que perturba a verdade por essa traição

Risos e lágrimas agridoces rolando

Ironia desse destino que mesmo provocamos

Quando amamos, vivemos, morremos.

E o que apenas restará

É o fantasma do passado que ressoa desde já.

R.Braga Herculano.

TEMPORAL DE PARALELAS E VERTIGENS

Uma rede é tecida de luz e dor

Junto ao sal e a ferida.

Sufocando os cirros que vão para o além

Até se estender pela de terra de fendas gritantes

Qual germina a vida em um ser

Que um dia há de morrer.

Aços e raios se ligam no ar

Cabos de força e segurança se rompem

Enquanto as cortinas se rasgam.

Quando estaremos perto do dia certo?

E o giro contínuo e analógico

Entende o tempo vanishear como mesclas brumosas

No horizonte.

O tempo,

um punhado de cupins e falenas medrosas.

As pessoas vão-se embora por que?

Os fetos envasados poderiam ser mártires e bons líderes

E distraído eu só me ponho a perguntar:

Quando estaremos perto do dia certo?

Pessoas dançam, dançam, dançam com o rádio:

Perderam o controle.

Zumbis dançam, dançam, dançam nos bailes, raves e blocos:

Perderam o controle.

As mesclas brumosas se dissiparam no horizonte

A fissura no ovo da ampulheta fez vazar toda a clara e a gema.

Tempo esgotado:

Ninguém mais há de chegar aqui

Pelo menos hoje.

E quando estaremos perto do dia certo?

R.Braga Herculano.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

DER DUNST DER ERHELLTEN STUNDEN (O Vapor das horas Claras)

Der Asphalt schwitzt heiß
im Dunst der erhellten Stunden.

Die erhellten Stunden verschlingen die Schatten,
die erhellten Stunden zerstören unsere Vision.

Unsere erhellten Stunden schwimmen im Meer
mit den Schmerzen im Kopf und mit überhöhtem Blutdruck.

Der Wind führt leicht den Dunst der erhellten Stunden.
Die erhellten Stunden zerstören die Armaturen-
bretter der Autos,
die erhellten Stunden die den Wein säuern.

Die gleichen erhellten Stunden erhellen die Wochenenden mit Hautkrebs und gewaltigem Fieber.
Der Himmel öffnet sich heute für den Dunst der erhellten Stunden.
Die erhellten Stunden bestrafen, schlagen , behandeln ungleich.

In diesen verbindet sich die Glut mit der man in unserem Land die Gnade entsendet,
dieser Dunst der erhellten Stunden.

R. Braga Herculano

Traduzido para o alemão por Micha "da Silva"

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O VAPOR DAS HORAS CLARAS

O asfalto transpira quente
o vapor das horas claras

Horas claras engolem sombras

Horas claras esverdejam nossa visão.

As nossas horas claras
dos banhos de mar
das dores de cabeça
das crises de hipertensão.

O vento conduz de leve
o vapor das horas claras.

Horas claras que ressecam painéis de automóveis
horas claras que entortam vinis
As mesmas horas claras da orla dos fins de semana
das metástases cutâneas
de secas febris.

O céu hoje se abre
para o vapor das horas claras
Horas claras castigantes,
prazeirosas,
desiguais.

Nesse conjunto de brasis
que é o nosso país
que se destaca graças
a esse vapor das horas claras.

R.Braga Herculano.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

LAPSOS DE JOHN DOE

tequetequeando palavras inquietas
comichões nos nervos do cérebro
incansado, faminto
como quem raspa o fundo da panela
comendo migalhas do inox
no sótão
corre-corre
e umas três ou quatro ratoeiras estalam
lá fora morcega quem quer.
eu forço em escrever
palavras quase mortas prematuras
tiradas a ferro
eu quero concluír o meu vácuo
o meu não
por ser independente de qualquer sim da vida
até se cerrarem os tinteiros.

R.Braga Herculano.

ESTRELA DE MIL PONTAS (Para Clarice Lispector)


Estrela de mil pontas
surge falenamente de um corpo sujo e triste definhado pela fome e indiferença.
estrela de mil pontas
chegou sua hora de se estender no céu
de furar o véu azul e se dissipar
solte seus raios pra cada canto do além
onde o raciocínio terreno soa como um mero lapso.
estrela de mil pontas
vá e mergulhe em outras esferas
sinta prazeres desconhecidos
de existir
de explodir-se
de chocar-se contra outras iguais a você.
estrela de mil pontas
alma de borracha
flexivelmente clara e nova
apague o que passou da vida
o que vale é o que ninguém entende afinal.

R.Braga Herculano.

GRACILIANO

Alagoano, cabra macho e letrado cinza, ranzinza.

Que crê q vai morrer ano que vem,

que crê num Deus mais ateu que o Deus de Nietzsche,

também ateu e que já morreu.

Fumante, chaminé,

Voláteis e densas idéias,

ora sombrias ora simples,

ficam emplastradas no ar.


R.Braga Herculano.

UMA VISCERAL

Ozônio, ovo, veneno, mar vermelho.
A placenta do mundo se rompe todos os dias
E estamos imersos
submersos
à deriva
em úteros
em tripas e alma
eu sou verme.
Sim, eu sou uma verme
Um verme contorcente
ofegante
e respirando acidez do ar
nesse oco do estômago
faminto
ruidoso
da mendiga pátria mãe gentil.
A pátria me pariu sim
mas como uma puta acostumada
com cara lavada de aloés
com cara lavada de quem vive pra isso.
Ela me deu o seu ar (i)lírico
etílico
reumático.
Envelheço porque vivo.
Eu morro porque vivo,
pois a imortalidade é dom dos que não nascem.

R.Braga Herculano.

CALIDOSCÓPIO

A minha vista está sobre diamantes ou prismas.
Cores,
valem mais até mesmo de que certos "valores".
Eu vejo formas torcidas e distorcidas,
retorcidas e ajustadas
desajustadas e decompostas
recompostas invadindo
todo o campo que vejo
dimensões não muito longe daqui.
Até dimensões daqui mesmo.


Nisso em zero por cento de alucinógeno ou similar
não quero assinar parcerias nem com Johnny Walker.

Praça masis hexagonal
caras de gente triangulares.
Brasil, por exemplo
estrela de vinte e sete pontas confusas
atropelando-se umas às outras
por serem obtusas demais.

Vermelho e azul, sangues desiguais
violeta da aurora os nivela, eis o velho céu.

Cores,
valem mais até mesmo que certos "valores".

Visão talvez minha
ou dentro de um mundo
que há nesse mundo
de diamantes ou prismas.

R.Braga Herculano.

A TERRA NUNCA FOI AZUL

A terra nunca foi azul
ela se encarnou do sangue de jovens vítimas
civis e militares.
Ela chupou com suas areias o vermelho
que jorra de seus corações literalmente feridos.
Ela absorveu a existência de Aurora
"She blew her mind", foram eles que fizeram isso.
A Terra é da cor do estatuto de Mao
A Terra é da cor de um esportivo de um mauriçola ocidental.
A Terra é da cor de lábios pintados e unhas de uma puta íbero-brasileira.
A Terra é da cor do maior blefe mundial.
A Terra é da cor dos restos (i)mortais
de corpos celestiais que se chocaram em brasa.

R.Braga Herculano.

R.BRAGA HERCULANO

Às vezes eu cato pedras de versos
e jogo-as nas águas
os fazendo ferver,
estourar
e jorrar mensagens em forma de rastros,
de gêiseres,
no alto.

Cometa quente que respinga
o que quero dizer
quando tenho o que dizer.
E até mesmo quando não posso,
mas acabo por me calar.

Feliz de quem escreve.


R.Braga Herculano.

A ATRIZ

Ela se maquiou
representou
sonhou um sonho lindo por outrem
que não era nem ninguém que vivia.
E chorava também
por amor
pelo desdém
mas que mesmo assim ainda amava
e sonhava
sobre o palco
sob as luzes desse sol de mentira.
Dessas gelatinas coloridas.
Estava lúcida
tão fingida
deu sua vida pra outra vida
enfim, trabalho.
Aplaudida, aplaudida, aplaudida!
Fim de todos os atos
platéia comovida
Saiu pela coxia
De olhos ainda inchados e missão cumprida
Missão de sempre
De todos os dias.
No camarim
tirou pintura
roupa
tomou banho
(Re-) Arrumou-se e saiu indiferente.
Voltou pra casa
olhou a Central
e cruzou com um amigo
tão formal
deu um boa noite sorridente
e seguiu.

R.Braga Herculano.

XÍCARA DE SANGUE

todo fim de tarde
tenho o anglo costume de beber da minha morte
bebo e fico bêbado
bebida febril que me arde
entranhas e me arrepia os braços
me faz pensar
me faz não acreditar no amanhã
e ele chega
pra me fazer feliz
pra me contrariar
pra me fazer insistir em pensar
em beber
em continuar a não acreditar no amanhã
em continuar a dar
goles, goles e goles dessa xícar de sangue então.
goles, goles e goles dessa xícara de medo então
goles, goles e mais goles desse enredo existencial(ista).
goles de tédio e um porre desses sóis morimbundos de sempre.

R.Braga Herculano

HIPNOSE

A chave magnética
os pára raios
os raios
o relento
as regressões
as orações
os fins de semana
os afins e desdéns de garotas
que me amam e ignoram
todos os ossos radiografados
os chás das dezessete horas
de todos os vinte e dois anos.
Milhões vezes milhões de piscadas e piscadelas
de tropeços e caras no poste
de nuvens que passam
e lamas que respingam em nossos pés
de arranhões de tombos
de bicicleta
de porradas no pescoço com air-bags
de zoeiras nos ouvidos com telefones celulares.
A quina da calçada
os punhais de gente ruim
os pesadelos
os devaneios
a esperança
os dedos estalam
e nada mais sei.

R.Braga Herculano.

ÊXTASE No. III

A manhã deu seu grito de liberdade
Então resolvi dar meu grito também
Ao abrir a janela
Vi flutuar a casa
E um imenso prazer desconhecido me atirar de cima.

R.Braga Herculano.