sexta-feira, 22 de agosto de 2008

INNER

Com brio veja-te dentro
e não deixe escorrer dos olhos a essência de teu ser.
Aspire o azul verdadeiro
e deságue nos confins da eternidade que habita em ti.

Ala-te ao Invisível
e siga o sopro vivo que virá.

R.Braga Herculano.

OMEGA

I
Quem te via, esplendor
hoje te procura em cinzas
hoje sem querer te respira
sua inércia seca e lentamente espalhafatosa
homogeneizando com carbono de fábricas
com cigarros de palha
com canos de descarga
com vapores de enxofre
com estilhaços de ferro
com pólvora quente
que a sangue frio é lançada.

O corpo é a decadência
a luz dos olhos, o marfim do corpo
o ouro dos fios de cabelo
os espelhos e coisa e tal
assassinaram Narciso
por ser poço de vaidade
sendo assim é homem raso
um vaso de terra e sementes murchas
que se lança ao chão não há mais o que ser.



II
Entrevando os velhos viram sábios
a dor de ser mortal é sinal
que aprenderam a lição
olhe as nuvens, lá está o certificado.

Nada mais aqui importa
tudo é tão destrutível
pela água, pelo fogo, pelo ar
pelas traças, terremotos
pelas metástases e loucuras.

Lubrificados, os jovens são tão flexíveis
isso é tão arriscado
porque o tempo não é bem síncrono ao físico
eu vi tísicos enterrando atletas.

Tudo é tão desreticente
o constante é o por enquanto
mas não creio no apagão
só que as mutações existem
desritmadas e turvas manhãs quando muito choram
partejam tardes de sol
e se alegram com o que ha de mais colorizado ao firmamento
e as pessoas acham tão diferente
embora não seja uma só vez na vida
que há de acontecer.

E os ventos desfolham os calendários levando embora folha por folha
e brincam de abrir e fechar templos rústicos
brincam de ser músicos com ecos de abóbadas e sons de folhas secas.



III
Mesmo assim vou seguir
os dias que seguirão avante
o que posso pensar
é que pensar demais não é tão bom assim.

E na praça do enquanto
de mãos pretas de carvão
as crianças desenham flores.

R.Braga Herculano.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

VEZ

Quem me tomar a deixa
que trove a esperança
que profetize aquilo
que sempre queremos ouvir e viver.

R.Braga Herculano.

GOOD MORN'

Fios de café
Aroma
Matina
Riscos avulsos, transparentes, espalhados
misturados de dourados
pastéis
crayons
são tons
veludos.

Abraços
Vazios.

Longínquo
o pensamento como rede vai pescar
o que está ali atrás
do sol
das serras.

Repente
distração
acaso
futuro
que chega
o escorregão que demos na escadaria do tempo
e demos de cara com um dia novo
de novo.

R.Braga Herculano.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

ESTRELA DA MANHÃ

Uma estrela teimosa não quer limpar a abóbada azul
estrela temporã.
Quero despregar os olhos do despertador
os leds vermelhos me afugentam do sonho: Já é de manhã.

E vou
na veludez da calmaria que é a solidão
agridoce e instigante
nada vezes nada vã
e no afã pelo novo eu vou
e a estrela ainda lá...

E vou
na lucidez de um novo dia
que é o que fazem todos os vivos
e no afã pelo novo eu vou
e no afã pelo novo eu tenho tenho de ir
e a estrela ainda lá...

R.Braga Herculano.

LÍRICA

Enfrentarei os mares quando se encontrarem
debaterei com suas ondas ora sombrias
ora luminosas, ora violentas,
ora repleta de bossa sob a bruma alucinógena da quase-manhã violeta.

Enfrentarei o velho medo de dizer
que tenho medo de enfrentar o medo
e quaisquer ciclos paranóicos
que espiralam nossos dias até o dia de todos os minutos
descerem ao ralo.

Eu seguirei sons
compassos e notas cadentes ao abismo dos intervalos das músicas
que estalarão daqui a uns anos
evanescendo todo o silêncio.

Darei nós nas cordas rompidas
de contrabaixos que resmungam aos fins de tarde pelos outonos da vida
para continuar o ritual
evanescendo todo o silêncio da promissora noite.

Que seja tudo à la Blue Note ou Verve.

Eu quero também entender aquelas notas aleatórias
escoando pelos córregos e com cara de cassettes alterados
fitas ao contrário, o avesso da orquestra é uma outra ainda mais nova
dizendo : Viva a vida após tudo e um pouco mais.
Então desagua-se do rio aos mares de ondas múltiplas
aos tais mares, os mesmos.

Sigo a correnteza e ligo o mundo outra vez pra mim.

R.Braga Herculano.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

AVANT

Num sonho vanishea-se o meu cansaço e reluto mais duas vezes
essa tipografia em mim precisa ser constante como um coração
versos irrigados precisam estar
e vivos também.

Virou viagem e vício
converter imagens em palavras e vice-versa
virou necessidade me mudar todos os dias
até um dia
eu chegar lá.

R.Braga Herculano.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

PIOMBEA E AMARA

Finestre come occhi vuoti,
alcun' perdut'animo parl' al fondo della sala
sono strane lingue eccheggiarando alle gonfi di dentro
parole che scivolanno nella vuota (è il cielo di cuore).

Amore, soffi tua essenza in tutto questo niente.

R.Braga Herculano.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

PARA QUANDO A LUZ ENTRE AS NUVENS DEIXAR DE SER APENAS UM FIO

Deram cordas nas bicicletas
que circundam esse mar imenso
ou ao menos a lagoinha
ou ao menos uma curva e outra.

As crianças são do sol e os velhos são seus donos
todos brincam e contam histórias flutuantes
nossas lentes são irmãs dos sonhos
querem ter em vista o que é luz.

Registrado, é o pra sempre
que sempre acaba se olvidado
mas se somos escrivães ou pictóricos de alma como hoje
não deixaremos apenas farelos pro amanhã.

Caminhada, traga o ar ainda úmido de neblina
nas calçadas pulam o preto e o branco a velha esperança
elástica e rejuvenescida.

Tudo novo
viva a plenitude da claridade deste dia
depois de tantos dias escuros
noites polares
em pleno tropical não há
somos sempre
os vivos que testemunham as crostas cinzas nos céus que já foram.

E assim será com os que virão
depois de amanhã.

R.Braga Herculano.