domingo, 21 de dezembro de 2008

MAIS DAS TURVAS

Me perder nas ilusivas luzes da certeza
engolir seus filamentos quase invisíveis
não tão quanto a bolha vitrificada da clareza
que ao se turvar me desbrilha entre os incompreensíveis.

Eu no além das circunstâncias todas do então
me destôo no último vagão sem partir
e me desplugo de razões, sou coração
mantramente chato me repetem : a falir, a falir, a falir.

Que falavam aquele um, a meia dúzia e outros mil?
meus ouvidos pesam surdamente com desverdades
e os rompantes ribombados celestes abafam minha voz vil
a latejar em meus sonhos pondo-me à margem da sanidade.

Tenho a certeza de enlouquecer
mas não pedirei ajuda
pois necessito assim sobreviver.

Enfim, os labirintos me saúdam.


R.Braga Herculano.

TERMINAL

Aquele homem que olha serenamente o mar
não me lembra nem um pouco o demônio da noite passada.
Etilizado com um ódio de si mesmo
a tal ponto
de odiar a tudo e todos.
E hurricaneado torce os ventos como centrífuga,
que pavor, meu Deus!
Como um bicho devorou aqueles dois ramalhetes
que você havia mandado e
restituiu os espinhos com vinho e gosma.
Pelo caminho se cortou a sangue frio
viscoseando as trilhas do abismo
que é o final da rua.
Pela traquéia suja
fumaça da amplidão
ou filamentos de óleo diesel
misturados a suor e estrada de chão.
Deve ter ido longe até se encontrar
num rancho de almas perdidas
ou então
se perdeu até tentar encontrar alguém.
Ele desceu a fim
de engolir o azul
e agora pára assim sem mais nem menos.
E eis que o areal seja o mais tortuoso de todos os seus leitos
e por enquanto, todos despercebidos agora
pra se cumprir
o inevitável talvez...


R.Braga Herculano.

CONTEMPLANDO...

Como eu amo
esse quê de alarde
que invade teu duro sono...

Nem parece que tu morreste!

Como eu amo ser invadido
pelo profundo sentimento teu
de desprender-se do amargor que é a vida.

Na rigidez da tua face
o doce mistério do lado de lá ainda perturba
ou me instiga.

Mas me enlodarei porque os cronômetros me são
ainda oxidantes
você fica.

Eu bebo a tua paz assim
mesmo que sinta-me teu órfão
e que teus abraços agora são pros deuses que tu crês.


R.Braga Herculano.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

7:45 p.m.

Sufocado com a opacidade das cortinas grenás
em meio a luz de velas que deixam
a casa cheirando a cruzeiro - lágrimas de cera
velando minha cara tétrica.

Velando a amargura de cadeiras vazias
parecem esqueletos.

É esse o jantar dos solitários- velório todos os dias.
Velório da esperança- pra variar.

R. Braga Herculano.

SFUMATO II

Tentei sonhar com você
mas o que vi na noite passada foi só fumaça
que me dizia:

-Infelizmente você precisa acordar. Agora
dê o seu goodbye para as estrelas.

R.Braga Herculano.

HELLO HEAVEN

Hello Hello Heaven
Cansei de porrar a porta do céu
Descerei as escadas pra tomar meu rumo
Ao fim do meu mundo
Mas antes eu quero
Desengomar os seus mistérios
Como se fossem
Tangerinas.

R.Braga Herculano.