quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A ÚLTIMA PÁGINA

(Este poema foi escrito incialmente em 5 de dezembro de 2006. Eu tinha a intenção de não publicá-lo nunca em lugar nenhum para que fosse póstumo, mas desfiz isso ao reescrevê-lo em 16 de janeiro de 2011 e postar nesta página no dia de hoje, 26 de janeiro de 2011. No meu caderno-livro "Por Enquanto O Primeiro, o Único e o Último" (2006-2008), este poema se encontrava justamente na última página e foi o primeiro que eu transcrevi do rascunho para o caderno.) - R.Braga Herculano.

"E tudo vai por via adiante
estamos em outra curva.
Desencrisalidou-se a esperança, meu amor?"

(R.Braga Herculano, em um trecho de um poema ainda sem título, escrito em 10 de novembro de 2008.)

Então, "A ÚLTIMA PÁGINA"


Fico eu desenhando uma casa sob o sol
não me esqueço dos pássaros
nem daquele morrinho antigo.

Fico eu desenhando grama, flores, crianças.
Fico desenhando feito criança.
Eu vejo crianças

Enquanto sinto o meu tempo desabando-se sobre mim
me lançando sobre o chão cada vez mais
amargamente há um tanto.

E o sol está tão bonito
um pouco mais seria bom, enfim.

Enquanto sinto o meu tempo desabando-se sobre mim
tudo o que vejo esfarela-se

e as crianças que eu via há minutos atrás, desperdiçam
saborosamente esse mesmo tempo,
que me lacra os olhos a fim que eu possa somente ver
meu coração cada vez mais descompassado;

Que já não sente mais uma brisa sequer
e petrifica então tudo o que amo e que logo está
a cair em pedaços e serem varridos para longe
longe
não a ponto de tocar meu desespero.

Pois não sei para onde vou
mas estou indo.

E um menino acena sorrindo para mim um pouco antes disso.


R.Braga Herculano.

INSÔNIA

Cai a noite
e ela cava com a cabeça o travesseiro
e seu travesseiro por ser
um porta-luvas do carro de um matador de aluguel.

Cai a noite
e ela cava com a cabeça o travesseiro
a garimpar vestígios
de nuvens em seus sonhos antigos.

Mas é impossível sonhar
quando o ser se engessa no cansaço da realidade...

Seus ouvidos ocupados
de chiados e canções
e nem ouve, apenas deseja adormecer.

E a tempestade desconstroi desde uma parte de sua mente
ao seu MP3 player
mas a outra parte está alheia
a tudo ou quase tudo.

Na madrugada, o que se procura é o silêncio
nessa paz (de certa forma) de escuridão, soltar-se de seus pensamentos...

Mas o breu vai tomando cores
e o breu está tomando cores
o breu tomou cores
o breu
morreu.

R.Braga Herculano.