segunda-feira, 23 de junho de 2008

DIAS REMOTOS

Leram meus pensamentos
como frases em caixa-preta.
Eram códigos avulsos xilografados
no porão dos dias remotos registrados por mim:

"Nos exílios debaixo da cama
no fundo da sala de aula
atrás da igreja
ao lado do cemitério de Irajá
onde eu mudo me indagava
por que é que eu sou eu
outro eu me respondia:
você quem é pra se indagar?
você é quem pra se estudar?"

No porão dos dias remotos fui-me hediondo
em busca de desentornar o ponto de interrogação
me esqueci das horas correndo pelo ralo
esqueci de mim.

"E então, chega de passar minutos mal-passados
deito sobre a tábua viro múmia
deito-me de costas pro passado
torrado pelo sol do meio-dia
emporcalhado com a lama junto à bola
cheirando à fumaça de Free ouvindo um límpido Jazz
sou chaminé e cano de descarga
engulo seco os dissabores torpes da vista da falecida guanabara
nos vitrais baleados do madureira candelária
como quem tem a alma numa braga
e os pés no convés ancorados.

Eu nado mas afundo
no existencialismo
alma penada que se baseia em seus achismos
e funde
e confunde o fora e o dentro como se
os mundos todos fossem a mesma coisa."

R.Braga Herculano.

(Agradecimentos ao Raphael Lambach que escolheu o título deste poema.
Abraços,

Roddy.)

Nenhum comentário: