segunda-feira, 22 de outubro de 2007

LÚCIA

Vida mais ou menos
vida difícilvida minha.
Ela falando sozinha
lavando a roupa
lavando a louça
fazendo almoço
varrendo a cozinha.
Ela não se maquia,
não se penteia
mas é bonita.
Ela não tem amor,
não tem dinheiro
mas é bonita.
Ela não tem amor, acredita?
Quase iletrada
é poesia por acaso
Apenas ouviu falar de filosofia
mas é dona do pouco que sabe
e disso
ela não sabia.
Anda linda tão descalça
ciscando num canto ao outro do chão vermelho
feliz aquela simples casa
pois se a tem não é preciso de mais nada.
No tanque ou no riacho logo ali ela corta o silêncio
dividindo com o sanhaço da laranjeira uma toada
E não pensa mais em nada
ela não sabe mais no que pensar.
Ela ri sozinha
chupa laranjas
corta cana
assobia e ri de novo sozinha.
Ela pega a faca e corta a cana
e corta o dedo
e chora
e xinga
e reclama
o dedo sara ela volta a cortar,
a colher,
a fazer o afazer
e canta,
chora,
cisca,
corre,
não ama
e reclama:
"Vida mais ou menos
vida difícil
vida minha..."

R.Braga Herculano.

10-agosto-2004.

Um comentário:

Darville Lizis disse...

Você conseguiu magistralmente transmitir um cotidiano rotineiro de Lúcia de forma muito simples e bela.