quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O CORTEJO

O chão hoje é lama e limo
vestígios da última tempestade
cercados com fungos nas casas caindo
arames farpados já não ferem mais.
Talvez distraído ou então desligado
há um fundo de transe na minha paralisia
eu morri por dois segundos várias vezes neste ano
meus adeuses já não comovem mais ninguém.
Minha voz é tão normal quanto a de meus irmãos
mas meu desepero é um estridente que trinca até os ossos
posso cantá-lo quando o cortejo passarem frente
ao meu portão?
As flores de ontem estão só na sépia
da fotografia
nunca mais verei o amarelo triste e luminoso
dos cravos do jardim da minha outra casa.
Carros passam com pessoas e árvores
as pessoas parecem árvores
as folhas que lhe caem são prantos secos
prantos já costumeiros.
E lá se foi o outono da vida
com o cortejo
e com a própria vida
Outono com cara de inverno-
só que com tempestades.
E meu desepero é um estridente que trinca até os ossos
posso cantá-lo quando o cortejo passar em frente
ao meu portão?

R.Braga Herculano.

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