quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

LA FIDE?

Sempre serei grato por confiares em mim.
Tu me amas
ainda sabendo que sou uma incógnita.
Por essas e outras
que estou sempre do seu lado.
Ou não estou?

(R.Braga Herculano)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A ESPERANÇA PRECISA TER OS SENTIDOS REACESOS NO MEIO DESSA TEMPESTADE

Aos olhos, o precipício é vertiginoso
e quem sabe o salvador
ou então a espada
ou então a porta dos umbrais.

Mas se olhar o céu
há neles pessoas flutuando perdidas.

Aqui é o lugar ideal
para os que nunca se encontram.

É preciso evanescer
quando as máquinas giram e geram suas neuroses
é preciso deslizar-se com o vento
esquecer de tudo
tentar entender
que tentar entender tudo é inútil.

Mas quem disse que servimos para
o sempre
se é o sempre mesmo que nos crema
se é o sempre mesmo que desata os nossos pés
do chão
que destoa nossos devaneios para o plano do olvidar
se é o sempre que nos arremessa por céu afora.

O agora é o mais falso de todos os tempos
faz-lhe crer num chamado futuro
e seguros esquecemos da morte

Depois tudo soa fatídico - mas não é -
estávamos apenas distraídos.

Verta toda luz que possamos ver cá
além de todo o anil do espaço
aspire os nevoeiros
esquive-se da chuva

A esperança precisa ter
os sentidos reacesos
no meio dessa tempestade.

(R.Braga Herculano)

SUPERNOVAS

É necessário nos tornarmos
cada vez maiores
nossos sonhos flamejam:

Vamos explodir.

Choveremos estrelas
essas que dançarão com tornados de neon.

Nos espalharemos
para abraçar sem medo
essa mirabolante eternidade.

Vamos lá
que horas são não sabemos
pois somos o "para sempre"
e porque nos amamos
o Universo agora é nosso.

(R.Braga Herculano)

HÁ VISCERAS NESTA VERDADE

Há vísceras nesta verdade
seja ela abstrata
ou invisível.

Mas esse é realmente
o chamado amor:

Além do lógico
além do físico
muitas vezes incompreensível.

Mas sempre válido
até para os que não bem
costumam entender
as coisas do espírito.

(R.Braga Herculano)

SILÊNCIO

Cai uma sombra
no repente
a diluir o cobre-claro
dos vapores de verão:

O tempo vira enquanto
a indiferença plantada por nós dois
se enraíza nesse fim de tarde.

(R.Braga Herculano)

A RASURA

Me escondi numa desmentira forçada
depois que surgi numa folha em branco
me empautei
trinta e duas vezes comportando
engarranchadas frases avulsas.

Me perdi
no vácuo das letras
que perturba a sempre plenitude das entrelinhas;

tentando buscar o que parece
a (in)essência de um possível ponto final.

Preciso aprontar-me
definir-me.

E tudo vai parecendo abstrato
quando você anda distraído
é preciso olhar a vida com olhos de trem-bala.

E eu ainda inescrito
me perdi por procurar ser
um alguém além de um ser
ou ser a palavra além da palavra eu
se eu sou só rasura...

(R.Braga Herculano)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

(Ainda Sem Título)

Uma seta no rosto
que se recua
sem noção sequer de norte,
os olhos perdidos na maçaneta,
uma certa pessoa
se encontra entre a porta entreaberta
a entrar.

Mas antes pergunta-se? O que é lugar?

Com os cabelos unidos em óleo
com os olhos mergulhados num mar de óleo emoldurado
a sua vida também é um emoldurado
que não terminará enquanto alguém o observa.

Todos os dias ele salta de sua dimensão
todos os dias alguém lhe vê em um novo pincelado
todos os dias se inventa o conceito de todos os dias

e ininterruptamente
respira-se
mesmo que seja às quatorze horas
mesmo que seja às dezenove horas
mesmo que seja às vinte e uma horas...

Pensativo e intacto
tem em si um mundo que move por si
e remove a dormência de seu corpo minguante
sua fala é algo que se ebuliu há tempos
assim como o seu espírito.

Traz a dor de ser gelado e não sentir dor alguma
no meio de um mundo sofrível
assim como os anjos que adornam os cemitérios
mas tem carne como a dos senhores
que contam coisas de guerras antigas
de campeonatos antigos de futebol
nas praças que só eles se lembram existir
em pleno centro da cidade
assim como os pombos
que surgem independente
de se quem ali está faz a ronda ou habita
ou está experimentando a arte
de se estar vagabundamente e incompreensivelmente em paz.

(R.Braga Herculano)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

SUPERFÍCIE

sinta a:

pele, o
verniz, o
cromo, as
plumas, as
vestes, os
esmaltes, os
pelos. são todos

mármores
mármores
mármores
mármores
mármores
mármores
mármores
mármores...

(R.Braga Herculano)

(Ainda sem título)

Na sinuosidade da angústia
na aspereza do silêncio
se processa um complexo sentimento.

É aquilo que às vezes chamo de poesia -
que outras horas rejeito.

Como gabar-me desse dom?

No transpirar da alma
que cospe fogo e rosas
que chora sangue de porco
que escarra mel entre as linhas
abarrotadas de chumbo

Isto é aquilo que às vezes chamo de poesia -
que outras horas rejeito.

Como gabar-me desse dom?

E os versos saem justos
após eletrocutar seu criador
e seguem-se com tamanha autonomia
com uma pá em punho a abrir covas
para lá meter todos os farrapos de devaneios
que se encontram já inúteis nos porões da mente.

Isto é aquilo que às vezes chamo de poesia -
que outras horas rejeito.

Como gabar-me desse dom?

(R.Braga Herculano)

ABSTRATO

Uma não-história começa.
E existe.
A verdade a ameaça constantemente.
Mas a mentira não a reconhece.

Essa não-história se ramifica dentro do ser.

A vida está sempre à parte.
Mas a morte não parece existir.

Pelos ares, os sonhos
com toda a sua condição volátil
toda todo o campo de uma certeza.

Mas a dúvida arranha as portas de casa,
as paredes do estômago
e estas linhas.

A felicidade vinga.
Mas contra a vontade de todos, a tristeza também.

Mas a felicidade vinga!

Na bisca por fundamentos para tudo
a esperança entra em cena
mas tudo está tão esfumaçado
diante dos olhos.

Tão distante.

E o futuro?

Quanto ao futuro...
Quanto ao futuro...
Quanto ao futuro...

(R.Braga Herculano)