sábado, 17 de janeiro de 2009

NOTURNO

Todos riem afogados no cálice de querosene
o querosene era o sangue dos maquinistas
mas as máquinas são elétricas
e a eletricidade era o rebento das caldeiras.

Todos presentes na sala de jantar
todos presentes na sala de espera
corpos estão presentes nos frigoríficos
e velas apagadas me soam como varais despidos
que soam como terços sem cruzes.

Na aleatoriedade da madrugada
alguém ao dizer amém faz chover cinzas
e uma criança chora como riffs de guitarra suja.

Alguém golpeia a porta
e o céu engole todos os pássaros negros com falanges nos bicos.
Todos ficam calados.

Todos ficam calados
o da voz de harpa
foi engolido por um daguerreótipo e ficou preso num tempo em traças.

Pilhas de daguerreótipos borboleteam janela afora
graças ao ciclone.
O ciclone cheirava a Freon 12
a geladeira tinha seus compressores estourados.

Corpos estão presentes nos frigoríficos
agora seguem vazando
ao chão rumo às frestas das portas.


R.Braga Herculano.

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