Se estas terras fossem minhas, não seriam mais

Dividiria tudo com os índios e os boias-frias

E me mandaria pro mato com o coração cheio de paz.

(R.Braga Herculano)

UMA PÁGINA DO CAPÍTULO XXVIII

A essa altura da vida
ainda, batidas de asas insensatas;

um trinca-ferro
esquizofrenico

sem um certo canto
mal compreendido
cada vez mais desconhecido

a ponto de ser alcunhado:

pseudo-beija-flor...

Era uma vez um relógio estourado. 
Seus ponteiros não conseguiram laçar o tempo com seu abraço.
Eu nele contava as horas 
para entender o que vem a ser o futuro. 

Você nele pensa
sobre os minutos que passaram
deixando tudo o que há em mente 
se convertendo em "se". 

Estamos distantes...
mais distantes...
e um de nós acabou de sumir.

R.Braga Herculano

Você se ilude tão fácil
fazendo pedidos daqui da janela.

O que passou riscando o céu
era só uma lombriga drag-queen
soltando de para-quedas ao luar.

Tá na hora de acordar!


R.Braga Herculano.

E quando as chances forem poucas,
você corre para o que parece mais viável
E quando você abre mão de certas coisas
para garantir o que puseram em suas mãos
E quando você pensa que
o que você pensa está
na hora de ser deixado para trás,

e sentir o chão que parece te engolir...

Tudo o que passa a vir são conquistas perecíveis.




R.Braga Herculano.

... E meu refrigerador
parou de funcionar
quando viu
uma latinha de coca-cola zero
com seu nome...

R.Braga Herculano

ORIGAMIS

você me fez pássaros amarelos, azuis, laranjas...
se você me sorri, não importo que eles sejam mudos.

só que hoje não é aquele dia
e sequer pássaro verde me tocou as pálpebras.

e assim estou triste.
ainda que cercado de tantas cores suas
tantas cores suas que não têm sido também minhas...

R.Braga Herculano.

VERSOS DE UMA QUINTA-FEIRA

num momento em que eu busquei um sentido em meio a todo esse movimento de sempre
te encontrei sentada com uma cara desolada aguardando o metrô da linha 1
eram duas e vinte e cinco da tarde
pleno sol que o underground nunca vê
mas para valer o velho dito  que antes tarde do que nunca, é neste que me apoio
e é assim que vivo estou agora.

R.Braga Herculano.

PARTE III

Eu era cinza.Estou de óculos.Meu Deus, a grama é verde!
Eu sou do mato.Viola aguçaO que meu coração diz:
Nem quer dizer.
Nem sabe dizer.
Mas vai saber.
Não sou daqui.
Sei se estou.
Já vi que ser
não é pra mim.
Agora vou.
Até porque
de vez em vez
procuro estar.
Rodeio de incógnitas não faz bem não.
Não sou peão.
Não sou pião.
Não sou não...

R.Braga Herculano

FRAGMENTO DA MANHÃ

[Matizes decompondo-se
quando asas coloridas debatem-se
na tentativa de saudar o sol
o mais próximo possível.
E assim ela se torna branca, branda, elástica
dilacerando as nuvens como se fossem algodão doce
mas são algodões doces]
açoite do ar,

língua de um anjo qualquer
que pelos cantos pregam nos postes
os ideiais de um coração que ainda sente florescer
a cota de esperança que é precisa por dia
e a cada dia usa a palavra "amanhã" sem temer
e saboreia o futuro como se fosse de verdade
mas é de verdade...*

(R. Braga Herculano)

NOTA: * fragmento que nunca terminei.

Entre colchetes, escrito em 2011, sem data.