na aspereza do silêncio
se processa um complexo sentimento.
É aquilo que às vezes chamo de poesia -
que outras horas rejeito.
Como gabar-me desse dom?
No transpirar da alma
que cospe fogo e rosas
que chora sangue de porco
que escarra mel entre as linhas
abarrotadas de chumbo
Isto é aquilo que às vezes chamo de poesia -
que outras horas rejeito.
Como gabar-me desse dom?
E os versos saem justos
após eletrocutar seu criador
e seguem-se com tamanha autonomia
com uma pá em punho a abrir covas
para lá meter todos os farrapos de devaneios
que se encontram já inúteis nos porões da mente.
Isto é aquilo que às vezes chamo de poesia -
que outras horas rejeito.
Como gabar-me desse dom?
(R.Braga Herculano)
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