Esta noite foi retalhada
por lâminas vermelhas e amarelas.
Passam por sombras
fazendo-as sentir a fervura do ar
emaranhado à lama negra do espaço.
Todas as sombras estáticas
sem seus corpos que as projetam em meio a
ventos espiralares que
dissolvem-se
e recompõem-se
a cada choque térmico
causado pelos delírios que se agravam
no avançar das horas.
E essas lâminas vermelhas e amarelas
ferventes,
cortantes
E essas sombras geladas,
opacas,
evanescentes,
apavoradas...
Esta noite foi sufocada
por novos edifícios que proclamam
a superação dos homens;
Agora voltam ao pó
agora são nuvens de terra
agora vão-se aos poucos para os distantes montes
mas param no caminho;
Sucumbem às chuvas
agora tudo é lama
na superfície que cobre
as pálpebras duras
dos pacotes de carne
sem sopros de vida
estes desviados
para o avesso do que sobrou
do horizonte
Assim meio que por acaso...
(R.Braga Herculano)
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