I
Quem te via, esplendor
hoje te procura em cinzas
hoje sem querer te respira
sua inércia seca e lentamente espalhafatosa
homogeneizando com carbono de fábricas
com cigarros de palha
com canos de descarga
com vapores de enxofre
com estilhaços de ferro
com pólvora quente
que a sangue frio é lançada.
O corpo é a decadência
a luz dos olhos, o marfim do corpo
o ouro dos fios de cabelo
os espelhos e coisa e tal
assassinaram Narciso
por ser poço de vaidade
sendo assim é homem raso
um vaso de terra e sementes murchas
que se lança ao chão não há mais o que ser.
II
Entrevando os velhos viram sábios
a dor de ser mortal é sinal
que aprenderam a lição
olhe as nuvens, lá está o certificado.
Nada mais aqui importa
tudo é tão destrutível
pela água, pelo fogo, pelo ar
pelas traças, terremotos
pelas metástases e loucuras.
Lubrificados, os jovens são tão flexíveis
isso é tão arriscado
porque o tempo não é bem síncrono ao físico
eu vi tísicos enterrando atletas.
Tudo é tão desreticente
o constante é o por enquanto
mas não creio no apagão
só que as mutações existem
desritmadas e turvas manhãs quando muito choram
partejam tardes de sol
e se alegram com o que ha de mais colorizado ao firmamento
e as pessoas acham tão diferente
embora não seja uma só vez na vida
que há de acontecer.
E os ventos desfolham os calendários levando embora folha por folha
e brincam de abrir e fechar templos rústicos
brincam de ser músicos com ecos de abóbadas e sons de folhas secas.
III
Mesmo assim vou seguir
os dias que seguirão avante
o que posso pensar
é que pensar demais não é tão bom assim.
E na praça do enquanto
de mãos pretas de carvão
as crianças desenham flores.
R.Braga Herculano.
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